As declarações do senador e ex-presidente do partido Tasso Jereissati sobre os erros que o PSDB cometeu desde a derrota eleitoral em 2014 não podem ser analisadas apenas como um “mea culpa”. Por um outro prisma, elas (as declarações) profetizam o fim de um partido que nasceu de uma dissidência do PMDB durante a Assembléia Nacional Constituinte (1987/1988) com uma posição de centro e centro-esquerda mas acabou descambando para a direita completamente tomado pelo DNA da UDN.
Em uma das estrofes de seu poema “Versos Íntimos”, Augusto dos Anjos escreve “Vês! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de tua última quimera. Somente a Ingratidão – esta pantera. Foi tua companheira inseparável!”. Tasso Jereissati foi enfático quando disse que, “ao não aceitar a derrota nas urnas em 2014, o PSDB mergulhou numa sucessão de erros”, entre os quais o golpe de estado de 2016 e o ingresso no governo Temer, que assumiu logo após o congresso derrubar a presidente eleita.
A menção ao poema de Augusto de Anjos serve para ilustrar que a campanha do PSDB a presidente da República e ao governo de São Paulo podem ser a última cartada do partido para sobreviver ao desastre que foi dinamitar a democracia. Perdendo em São Paulo, estado que governou por 24 anos – ou seis mandatos – e na eleição presidencial, o PSDB dificilmente sobreviverá. Seus principais líderes estão envelhecidos e como não preparou uma transição a tendência será encolher.
O apoio ao golpe de 2016 foi capital para colocar o partido longe de ser uma alternativa de poder ao PT, principalmente depois de se por a reboque de um governo sem qualquer identidade outra que não a de golpista. O próprio Geraldo Alckimin não pode se desvincular dessa opção pelo lado obscuro da política que foi trabalhar pela derrubada de uma presidente legitimamente eleita e deitar elogios a um governo que, ao contrário dos argumentos do golpe, colocou o país ladeira abaixo.
Tasso Jereissati pode não ter gostado da repercussão de sua entrevista mas ele vai perceber que ela serve de alerta e reflexão para aqueles que direta ou indiretamente se envolveram nos acontecimentos que precederam o resultado das eleições presidenciais de 2014. Ela veio no exato momento em que a candidatura de Geraldo Alckimin padece as conseqüências da aventura errante que o partido mergulhou quando Aécio Neves não aceitou a derrota para Dilma Rousseff.
Pior que o caminho errôneo percorrido é o fato de o partido ter ajudado o país a amargar sua pior crise desde a implantação do Plano Real em 1994 que o próprio PSDB implantou. Como pai do Plano Real, o PSDB deveria ser o único a lutar para preservá-lo. Em vez disso, ajudou a demoli-lo. As conseqüências disso atingirá o PSDB em cheio com as derrotas para presidente e para o governo de São Paulo, projetando-lhe um fim melancólico de quem um dia já foi considerado o partido da social democracia e hoje não passa de uma legenda – como a UDN – golpista.
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